quinta-feira, 16 de maio de 2013

Entrevista com Paulo Freire > Cristo, meu camarada


Frase de Karl Marx: 

“A união entre trabalho, instrução intelectual, exercício físico e treino politécnico elevará a classe operária”



“Quando muito moço, muito jovem, eu fui aos mangues do Recife, aos córregos do Recife, aos morros do Recife, as zonas rurais de Pernambuco, trabalhar com os camponeses, com as camponesas, com os favelados, eu confesso sem nenhuma choramingas, eu confessa que fui até lá movido por uma certa lealdade ao Cristo de quem eu era mais ou menos camarada.

Mas acontece é que quando eu chego lá, a realidade dura do favelado, a realidade dura do camponês, a negação do seu ser como gente, a tendência aquela adaptação (...), aquele estado quase inerte diante da negação da liberdade.

Aquilo tudo me remeteu a Marx.

Eu sempre digo, não foram os camponeses que disseram a mim: ‘Paulo, tu já lestes Marx?”. Não, de jeito nenhum, eles não liam nem jornal.

Foi a realidade deles que me remeteu a Marx.

E eu fui a Marx.

E aí é que os jornalistas europeus, em 70, não entenderam a minha afirmação:

É que quanto mais eu li Marx, tanto mais eu encontrei uma certa fundamentação objetiva para continuar camarada de Cristo.

Então, as leituras que eu fiz de Marx, e alongamentos de Marx, não me sugeriram jamais que eu deixasse de encontrar Cristo na esquina das próprias favelas.

Eu fiquei com Marx na mundanidade,
a procura de Cristo na transcendentalidade.”

Paulo Freire